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Os Conjuntos de Partes e Contrapartes do Perfil Facial.


Olhando-se a nuance de um perfil, facilmente se percebe quais são os seus componentes. Mesmo que a sua representação seja feita apenas por um risco, não é difícil identificar as suas partes. Pelo contrário, um perfil facial não precisa mais do que um leve traço para que todas as suas estruturas sejam rapidamente identificadas.

Testa,nariz, lábios e mento são imediatamente avistados. Cada um dos segmentos do perfil facial é identificado com precisão e justeza. Juntas as estruturas se tornam as partes e contrapartes do perfil da face. Entender cada influência de cada parte e a sua respectiva contraparte é tarefa primordial no esclarecer e desvendar das variantes e nuances que interferem na sua estética.


Saber identificar e perceber o peso que cada estrutura irá imprimir sobre o todo facilitará a leitura e interpretação do conjunto. Relacionamentos e posições irão formar pontos e ângulos que irão revelar facilmente os acordos e desacordos entre cada componente e com ele próprio.


Do ponto de vista ortodôntico, as estruturas que fazem parte do terço médio e inferior, como nariz, lábios e mento, tem um peso maior na avaliação do ortodontista. A possibilidade de interferir direta ou indiretamente nesse arcabouço proporciona e credencia esse fato.


Entre as partes e contrapartes existem relacionamentos entre si que causam influências e interferências, que dependendo de cada uma das partes terá um efeito diferente para cada situação específica. Isto é, mesmo que um ângulo formado por duas estruturas, mas em situações diferentes, seja o mesmo, o efeito estético pode ser muito diferente.

É por isso que a interpretação dos efeitos e da influência de cada parte e contraparte é tão importante em um diagnóstico estético. Se por vezes duas estruturas formam um relacionamento que resulta em linhas, que formam um determinado ângulo, esse mesmo ângulo terá impacto estético diferente dependendo de cada parte, que sofre a influência da sua contraparte.


Não é necessário dizer, que o estudo e a correta interpretação das partes e contrapartes do perfil facial é fundamental e imprescindível quando pensamos em fazer um correto diagnóstico estético ortodôntico.


Quanto maior o domínio do ortodontista sobre esse assunto, mais apurado e preciso a sua diagnose e melhor para as possibilidades dos resultados do tratamento.

Sendo assim, vale a pena conhecer e explorar esse assunto, sob pena de uma má interpretação levar a caminhos não desejados, com irreparáveis danos ao perfil facial, que criarão máculas ao paciente e também ao profissional. O primeiro porque terá danos estéticos e o segundo pela imprudência que certamente irá contribuir para a imperícia. Ambos com efeitos negativos na vida pessoal e, provavelmente, profissional.


Pode-se dizer que o conhecimento e a interpretação das relações de quatro conjuntos de partes e contrapartes do perfil facial é fundamental para o trabalho e perícia de todo ortodontista; e são eles:

. Nariz - lábio superior (Figura 1A, 1B);

. Lábio superior - lábio inferior (Figura 2A, 2B);

. Lábio inferior - mento (Figura 3A, 3B);

. Queixo - pescoço (Figura 4A, 4B).


Vale aqui uma observação - o conjunto testa - nariz poderia fazer parte deste grupo e, na verdade, o faz; sendo então o quinto elemento. Porém, como a Ortodontia não tem a menor possibilidade de atuação sobre ele, o seu estudo e avaliação não serão abordados, deixando a farta literatura sobre esse assunto fazer a sua parte.


CONJUNTO NARIZ-LÁBIO SUPERIOR


O ângulo formado pelo base do nariz (Columella - C) com o contorno do lábio superior (Subnasale - Sn/Labiale Superius - Ls) (Figura 1A) é uma importante referência estética e qualquer alteração deste ângulo terá repercussões na harmonia e equilíbrio do perfil facial. Pode-se considerar um ângulo de 100º (±10º)1 (Figura 1B)como uma medida razoável para o ângulo nasolabial. Entretanto, mais importante do que o número em si é a correta interpretação dos fatores envolvidos na formação deste ângulo.

É fácil entender que a linha da base do nariz pode apontar para cima ou para baixo e mesmo assim o ângulo nasolabial permanecer inalterado. Basta que haja uma compensação da parte labial para que o ângulo seja mantido. No entanto, se na perspectiva matemática não faz diferença se o nariz é “arrebitado" ou “caído”, do ponto de vista estético traz uma enorme e considerável imprecisão. Nariz com a ponta para baixo costuma ser visto com desconfiança, já quando a ponta está para cima, predispõe uma melhor avaliação. Por isso, o melhor é separar o ângulo nasolabial em partes (componente superior e inferior), utilizando um linha horizontal verdadeira através do ponto Subnasal (Sn). Essa manobra permitirá que o ângulo referente à tangente da columela e o plano horizontal verdadeiro seja avaliado em separado com o ângulo formado pela tangente do lábio superior e o plano horizontal verdadeiro. Esse procedimento é positivo pois avalia a parte e contraparte de forma independente. O ângulo do componente superior costuma ficar entre 10º e 20º, sendo que as mulheres apresentam valores maiores do que os homens, justificado pela maior tendência que elas tem de apresentar o nariz mais “arrebitado” (do ponto de vista morfológico).


CONJUNTO LÁBIO SUPERIOR - LÁBIO INFERIOR


A relação ântero-posterior ideal entre lábios é de um "quase" alinhamento exato. Não o é porque o lábio superior se posiciona um pouco mais para anterior, em relação ao inferior. Melhor dizendo, passando-se uma linha vertical verdadeira que tangencie o lábio superior, esse deve ficar um pouco à frente do inferior. Essa é a relação ideal no indivíduo ortognata, no qual, grandes compensações dentárias não são esperadas. O ângulo ideal formado entre os lábios (interlabial) é de 125º2e é obtido entre as linhas dos contornos labiais (Ponto B’ - B’/Labiale inferius -Li/ Labiale superius -Ls/ Ponto A’ - A’) (Figura 2A, 2B).


CONJUNTO MENTO-LÁBIO INFERIOR


O conjunto mento-lábio inferior se situa na mandíbula. Parte e contraparte ocupam lugar na mesma estrutura, o maxilar inferior. A relação entre o mento e o lábio inferior é uma importante referência estética que tem forte influência no equilíbrio e harmonia do perfil facial. Esse conjunto, quando bem balanceado costuma imprimir uma agradável atratividade aos indivíduos.


A medida ideal do ângulo mentolabial (Labiale inferius - Li/ Ponto B’ - B’/ Pogonion - Pg’) (Figura 3A)costuma se situar nas imediações de 125ºe 130º3,4 (Figura 3B), mas pode variar bastante. Mais uma vez, é bom lembrar, que a medida em si não diz muita coisa. O importante é como se comportam cada estrutura. Mento e lábio inferior, cada um, exerce uma importante função na agradabilidade do perfil. Um mento bem desenhado, equilibrado verticalmente e com contornos bem definidos, junto com um lábio inferior bem posicionado e assentado valoriza e embeleza uma face. Como a maioria dos ângulos que envolvem dois componentes faciais é interessante que se divida em duas partes: superior (lábio inferior) e inferior (mento). O valor médio da parte superior fica em torno de 50º (±15º)3.

Caso haja um defeito, irregularidade ou deficiência no mento ou lábio inferior, um ângulo mento-labial ideal pode não representar algo importante. Repetindo, o importante é o equilíbrio e harmonia da parte e contraparte; e não, o ângulo em si.


CONJUNTO SUBMENTO-CERVICAL (QUEIXO PESCOÇO)


A linha ou plano submento cervical é o elo entre a face e o pescoço. Inicia-se no ponto Menton (Me) e termina no ponto Cervical (C) (Figura 4A) ou vice-versa. Tendo como limite posterior o pescoço, ela determina o comprimento mandibular clínico.

O tamanho da linha queixo pescoço pode ser avaliado por números (57 ± 6 mm)5, por nomes (curta, média ou longa) ou por “dedos” (três, quatro ou cinco). O importante aqui é perceber a importância clínica que essa informação está passando.

Todavia, a linha submento cervical, como o próprio nome já indica, não está sozinha. A sua contraparte, o pescoço, é quem credencia o seu destaque. A relação entre queixo e pescoço é um dos elementos fundamentais da estética facial. O vínculo que essas duas estruturas guardam entre si é recheado de informações e referências.

Marcado pelo ponto C (o ponto localizado na interseção das linhas da região anterior do pescoço e do submento), o ângulo formado entre o queixo e o pescoço dará muitas pistas e parâmetros de diagnóstico.

O ângulo “ideal” entre o queixo e o pescoço deve se situar entre 105 e 120º3 (Figura 4b). Porém, mais uma vez, mais importante do que um valor isolado são os valores fracionados. Isto é, passando-se uma linha vertical verdadeira e dividindo os planos chega-se aos valores individualizados. O ângulo entre o plano submento e a linha horizontal verdadeira deve ser reto e entre o plano cervical ficar entre 15 e 30º. Em outras, palavras quanto mais paralela for a linha submento cervical à linha horizontal verdadeira, melhor. Também, quanto mais paralela for a linha do pescoço com a linha vertical verdadeira, mais favorável para a estética de perfil. Medidas diferentes do ideal irão indicar onde está o desarranjo. (Figura 4A, 4B)


Viva a Ortodontia!


LEGENDAS:

Figura 1A. Parte e contraparte nariz e lábio superior. Pontos: Subnasale Sn; Columella C; Labiale superius Ls.

Figura 1B. Ângulo naso-labial (100º +/-10º)1.

Figura 2A. Parte e contraparte lábio superior e lábio inferior. Pontos: Ponto A’; Labiale superius Ls; Ponto B’; Labiale inferius.

Figura 2B. Ângulo interlabial (125º)2.

Figura 3A. Parte e contraparte lábio inferior e mento. Pontos: Labiale inferius Li; Ponto B’; Pogonion Pg’.

Figura 3B. Ângulo mentolabial (125º-130º)3,4

Figura 4A. Parte e contraparte mento e pescoço. Pontos: Cervical C; Menton Me’.

Figura 4B. Ângulo submento-cervical (105º-120º)3


REFERÊNCIAS:

1. McNamara JA Jr. A method of cephalometric evaluation. Am J Orthod. 1984 Dec;86(6):449-69.

2. Nguyen DD, Turley PK. Changes in the Caucasian male facial profile as depicted in fashion magazines during the twentieth century. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1998 Aug;114(2):208-17.

3.. Farkas LG. Anthopometry of the Head and Face. 2nd. New York: Raven Press; 1994.

4. Lines PA, Lines RR, Lines CA. Profilemetrics and facial esthetics. Am J Orthod. 1978 June;73(6):648-57.

5. Worms FW, Isaacson RJ, Speidel TM. Surgical orthodontic treatment planning: profile analysis and mandibular surgery. Angle Orthod. 1976 Jan;46(1):1-25.


Este artigo foi publicado na Revista Clínica de Ortodontia Dental Press. V17, N6 – DEZ 2018/JAN2019. www.dentalgo.com.br

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