Ciência é a ausência de fé. É o exercício da duvida (Descartes).
Ou seja, se a fé é a adesão de forma incondicional a uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo uma verdade sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que se deposita nesta ideia ou fonte de transmissão, a ciência é justamente o contrário (wikipedia). Pois a ciência tem como princípio máximo a dúvida, mesmo que haja provas robustas que levem a crer que algo é verdade.
E o que isso tem a ver com a relação entre a ciência e arte em Ortodontia?
Pois é isso que eu vou tentar explicar.
Mas antes vai aqui um aviso. Eu não sou e nem quero ser o dono da verdade. E tudo o que eu vou falar é fruto de observações próprias, e não, necessariamente, pode corresponder ao certo (ou errado).
Então vamos lá!
A Arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa (todas estas definições estão no wikipedia). Então, o que fica claro é que a arte passa pelo “juízo do gosto estético”; o conceito do filósofo Immanuel Kant, que de uma certa forma, proclama que a beleza está nos olhos do observador. Ou seja, o que para mim pode ser bonito, para você, não. E esta diferença pode ocorrer desde diferenças pessoais até contextos de cultura, época, moda e localidade do observador. Em outras palavras, a Arte e a sua beleza estão sempre sujeitas às diferenças de opiniões.
Resta agora saber, como unir ciência e arte? E mais, como fazer essa união com a Ortodontia?
Na minha opinião, fica claro que é muito difícil fazer este casamento. E por quê?
Porque nas pesquisas ortodônticas, que tentam avaliar a estética de sorrisos e aparelhos, sempre há a necessidade de se fazer presente a opinião de avaliadores. E é aí, que na minha opinião (mais uma vez), mora o perigo. Pois TODAS as vezes que somos confrontados com opiniões de gostos pessoais, estaremos correndo o risco do viés pessoal ou de confirmação. Em outras palavras, estaremos sujeitos ao que determinada amostra de avaliadores considera como bonito ou não. Ou pior, o quanto um grupo de pessoas credenciadas à avaliação de uma determinada característica é competente para enxergar detalhes e avaliar defeitos.
Some-se a isso, a dificuldade de se montar imagens que sejam fáceis de identificar, ou que estejam muito bem elaboradas e credenciadas à avaliação.
E aqui, posso dizer, que na quase totalidade de artigos que fazem uso de Photoshop eu encontro defeitos grosseiros de ajustes. Isto é, eu sempre observo falhas gritantes na manipulação de imagens. Mas daí você pode dizer: mas é porque você tem um olhar mais aguçado, por ser um estudioso no assunto de Estética em Ortodontia. E eu respondo: e como podemos saber que o gosto de participantes de uma amostra de avaliadores corresponde à uma média!?
Sendo assim, costumo ler e avaliar todos esses artigos que tentam associar imagens manipuladas por computador com a opinião de avaliadores, com muito cuidado e critério. Respeito a boa vontade de todos estes trabalhos em tentar trazer conceitos estéticos para o mundo clínico, mas sinceramente, sempre considero a sua utilidade com muita parcimônia. Porque não custa lembrar: canja de galinha e cautela não fazem mal a ninguém (nem na nossa vida pessoal e nem na Ortodontia).
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